Faz hoje vinte dias que conheci um gajo chamado Rick que tem uma banda de thrash metal em Vila Nova de Gaia. Ele tem o aspecto adequado: roupas escuras, tachas, cabelo loiro, voz gutural. O estúdio onde ele costuma gravar é pequeno e escuro e está coberto de posters de grandes ícones do metal – nomes como Iron Maiden, Judas Priest etc. – e os amigos dele são tipos com estilo que gostam de passar as noites nos bares a falar do género de música que gostavam de fazer – até aqui, nada de novo. Tocámos algumas músicas conhecidas juntos (guitarra e piano basicamente) e corria tudo bem, embora os riffs da banda fossem essencialmente fracos. Tanta auto-estima, tantos ídolos, tanto spotlight e espremido valia muito pouco. Estou-me a lembrar de uma rapariga que nos viu juntos uma vez e disse «arranjaste uma musa nova, foi» e de ele dizer que logo que eu escrevesse algumas letras passava o material para o MySpace e estava feito.
É triste ver que há cada vez mais metaleiros todos iguais uns aos outros, todos a julgarem-se os maiores à espera que os outros façam tudo por eles, todos agarrados a conceitos do que é cool ou não, sem amor absolutamente nenhum à música propriamente dita. É triste ver que isso não se estende só a este ramo: quantas vezes não facilitamos e acabamos por nos esconder atrás de uma máscara qualquer, quantas vezes não mentimos, quantas vezes não inventamos jogos porque é bom, porque alimenta o ego, porque já não sei o que quero mas apimentar isto com uma boa história dá-me a adrenalina que preciso.
Vim-me embora com duas ideias na cabeça: primeiro, há-de haver sempre pessoas que ponham outras num altar só porque o lixo delas está muito bem embrulhado e muito perfumado; segundo, boa música tem que ser original, autêntica, clara na sua mensagem.
Não vale a pena tentar altos voos quando o mais simples é forte e seguro no princípio da viagem e no fim, afinal. As bandas mais conceituadas no mundo do metal estão aí para provar que o essencial é o carácter, não as t-shirts.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário