quinta-feira, 5 de julho de 2007

As árvores morrem de pé

Este foi um texto dramático muito curto que esteve em cena em 2006 e que escrevi a partir de uma crónica de António Lobo Antunes quando tive aulas de Teatro com o grande professor Duarte de quem tenho muitas saudades, aqui vai um beijinho para ele.


Eu, só, de pé, vestida de branco, com uma ligadura na cabeça

- Chiiiiiuuuu...

(Ponho a mão atrás da orelha)

- Não ouvem? Carros a serem engolidos pela noite?

(Falo apressadamente)

- Para onde vão? Será que olham para trás? Não! De onde vêm? Não é mais importante? Não é o futuro criado pelo passado?

(Respiro fundo)

- Gozam eles a riqueza do silêncio?

(Viro-me para o público)

- Gozam vocês?

(Sento-me)

- Afinal, vimos todos de algum lado...Só nós sabemos de onde...

(Tiro o calçado, cai areia. Levanto-me, rodopio em frente ao espelho.)

- Temos que aprender a escutar o silêncio.

(Começo a desenrolar a ligadura, devagar. Por baixo, não há ferida alguma. Sorrio.)

- Por isso, não te preocupes comigo...

(Desafio)

- Chiiiiuuu.... Não é maravilhoso?

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