quinta-feira, 5 de julho de 2007

Querubim

Deves ser o recém-nascido
Que carrego com ternura
O elemento mais marcante
Da minha derradeira pintura

Deves ser o meu prisma secreto
A cada dia vislumbro mais e mais cores
Mesmo num cenário pútrido e infecto
Os teus passos são tranquilizadores

Quando da tua estou ávida
A boca sabe-me a fel
É uma autêntica dádiva
O teu corpo confuso no meu

Deves ser o som do tempo
O vento sussurra-me o teu nome
Ou talvez o doce suculento
Que rasga o meu estômago de fome

Como um fiel discípulo
Tropeço nos meus pés
Será que caio no ridículo
Apregoando quem tu és?

Da minha boca não sai um som
O vento carrega-o nos braços
A verdade interior é um dom
Sinto-o em tudo o que faço

Tu moves os meus pés descalços
Sorris para mim de manhã
O que é real e o que é falso?
Tu comes esta maçã

Vi o sol engolir a lua
Foram os meus olhos ou foram os teus?
Foi a minha alma ou foi a tua
Que hoje dançou com Deus?

Entro dentro do rio
Encontro liberdade
Beijas-me, sorrio
Não há qualquer saudade

As árvores cor de jade
Sussurram-no para mim
A paz, quem sabe
Pertence ao querubim

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