segunda-feira, 16 de julho de 2007

Arte

As palavras dançam um baile de máscaras dentro da cabeça. Para “bom”, entoa-se “perfeito” em qualquer circunstância, fica sempre bem; “maravilhoso” após uma pausa, caso se esteja comovido; “fantástico” bem alto para aquele que se sentir corajoso; “único” quando o choque é total… Escolhê-las é um jogo para ser jogado devagar e cuidadosamente, selectivamente… A escolha é infinita… É através do paladar que o fazemos e nos arriscamos a abraçar, beijar, vestir, pintar, enfeitar palavras… Oferecemos palavras como quem oferece presentes, tanta generosidade… Escrevemos e rasgamos o papel só pela volúpia do processo…

Criar é uma assinatura de sangue na carne, na pedra da vida, num lugar só nosso e chamamos-lhe Arte.

Os desenhos são mensagens cifradas que se compreendem antes de serem descodificadas; que se sentem antes de serem pensadas. Um vermelho intenso, um azul apagado, um verde cristalino, um amarelo gritante, um preto obscuro que procura fazer sobressair todas as outras cores, brotam de uma mão que autentifica as suas linhas ao retratar isto e não aquilo… O desenho é uma resposta imediata, é sempre uma descoberta.

Criar é uma assinatura de sangue na carne, na pedra da vida, num lugar só nosso e chamamos-lhe Arte.

A música é o filho do Homem que nasceu num dia solarengo quando este, cansado de provocar tanto mal, decidiu que tinha que fazer algo grandioso antes de morrer para provar à Mãe Natureza que podia ser tão magnífico quanto ela. Tocar um instrumento é semelhante ao riso ou ao choro – é liberdade; é abstermo-nos da nossa condição de meros mortais e levitarmos uns centímetros do chão.

Criar é uma assinatura de sangue na carne, na pedra da vida, num lugar só nosso e chamamos-lhe Arte. Nunca é individual – nunca é para mim, nunca é para ti, é para nós. É aí que nos tornamos iguais e invencíveis…

2004

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