domingo, 2 de setembro de 2007

Devoção

Todas as partes de mim encaixam quando a música grita. Eis o momento de verdade para o qual vivo e com ele um pouco de paz.
A voz tem o dom de encher todos os lugares e despertar desejos remotos. Paralisa, seduz e caminha para trás. Solta pequenas faíscas. A mente rende-se aos seus encantos, fascinada. A partir de agora, todos os dias, vai pedir de beber.

Não me basta ouvir. Tenho que rasgar a minha garganta. É violenta a forma como ela me toca. Sem lágrimas, choro e sem sorrir, rio-me de estar possuída pela música. Os aplausos fazem-me esquecer que sou eu. Estou afogada em mim mesma.

Que pensamentos dariam boas letras. Que composições dariam boas melodias. Vejo o mundo por olhos que não são meus. No entanto, neles me vejo reflectidos. É a música que me dá consistência. É ela que me move e me dá o prazer irracional de ser eu. Enquanto ela existir, não estou sozinha.

Há quem lhe chame devoção. Devoção total e declarada. Devoção que nada pede em troca além da possibilidade da continuidade dessa companhia. Doce devoção...

1 comentário:

AnCaLaGoN disse...

E com tanto a dizer, a sentir, só te falta fazer uma coisa para atingires algo de bom, criar musica :) cria, cria e cria, nada se põe ao nivel de criar algo!!!