terça-feira, 11 de setembro de 2007

O dia em que assustei o medo

Uma viagem de comboio é um poço de surpresas. Sempre gostei dos pequenos nadas que me aguardam nesse tipo de viagem, desde os passageiros, a paisagem, a lengalenga sonora da máquina ou a paz envolvente, e mesmo quando algo corre menos bem, andar de comboio, simplesmente, é reconfortante.

Esta tarde, um homem sentou-se ao pé de mim. Um homem velho e sujo. Dizia que eu era bonita. Que devia ter muitos homens atrás de mim. Demasiado perto. Dizia que queria que eu fosse com ele. Que me queria foder. Que eu não dizia nada porque também queria.


Subjugar outras pessoas tem o seu encanto. Faz-se uma pessoa sentir despida, com frio, instala-se-lhe o medo que incomoda e vai-se embora. Vaga noção de poder. Raridade.


Farta. Não é a primeira vez nem há-de ser a última. Por isso ri-me. Ri-me alto e sem mácula. Ri-me dele. Ali ficou ele, despido, com frio, com o medo que incomoda. Assustei-o e fui-me embora.

Quem diria que o medo tem medo do riso?...

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