Todas as manhãs vou a um café fanhoso tomar uma bica forte e ler o jornal. Ao soltar a primeira cachimbada do dia, olho em redor e penso. Não fui feito para a confusão.
O que seria de ti, Milton, num grande estabelecimento a observar profissionais de sucesso a deixar cair migalhas e saliva das bocas abertas? Quel horreur. Não. Dou-me ao luxo de exigir privacidade total.
Bebo o café com os punhos da camisa desapertados porque um bom café tem que ser apreciado lentamente, com todos os sentidos. Sinto o licor adocicado pela garganta e penso. Para sempre. Não posso apreciá-lo sem imaginar que é para sempre. O conteúdo insignificante desta chávena destina-se única e exclusivamente a provocar-me prazer. Eu deleito-me. Para sempre.
Seria concebível, hipoteticamente, que ele se revoltasse e gritasse «cospe, velho, cospe, os teus lábios são ásperos, és feio, não te quero para mim»? Não. Quel horreur. Não concebo tal coisa. No meu interior, eu sou merecedor do que quer que seja e deleito-me. Para sempre.
A ironia do ser humano...
domingo, 21 de outubro de 2007
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